Krist Novoselic, em dezembro de 2008, escreveu, em sua coluna no jornal Seattle Weekly, sobre o infame incidente entre Guns N' Roses e Nirvana em 1992, quando Axl Rose teve um desentendimento com Courtney Love e Kurt Cobain. Segue a versão do baixista do Nirvana sobre a noite que terminou com ele sendo atingido por seu próprio baixo.
"Visto que é o primeiro aniversário da minha coluna no SeattleWeekly.com, pensei em fazer algo diferente esta semana e contar toda a história por trás do VMA de 1992 quando meu baixo caiu na minha cabeça.
O Nirvana apareceu cedo no dia para a produção do evento na UCLA, oeste de Hollywood. O show foi no ginásio, e no campo de atletismo foram montados os camarins para os artistas.
Nós resolvemos ficar dentro do nosso trailer. No mundo musical, você aparece na hora só para esperar uma eternidade. Porque não tomar uma cerveja para relaxar? Ao invés de uma gelada, encontrei latas de uma cerveja quente e barata. Argh! Bem que podiam ter deixado no mini-frezzer por um tempo.
Andei em volta e chequei o palco. Outras bandas estavam chegando. Disse “oi” para os carregadores do Pearl Jam e do Black Crowes. Sammy Hagar disse “oi”. Estava também Howard Stern em um terno feito para mostrar suas nádegas.
Passei no refeitório, onde Kurt e Courtney estavam numa mesa com a recém-nascida filha deles, Frances. Me contaram que Axl Rose estava andando por ali e Courtney começou a provocá-lo. Ela gritou: “Axl, Axl – você é o padrinho!”. Tendo escutado isso, Axl aparentemente ficou muito irritado, foi até Kurt e exigiu que ele mantivesse sua mulher na linha. Kurt se virou para Courtney e sarcasticamente pediu a sua mulher para ficar na linha e deixou isso pra lá. Axl então pirou. Claro, Kurt e Courtney estavam zoando a resposta de Axl no contexto das tendências patriarcais [machistas] da sociedade. Na minha opinião, Rose não deveria ter apelado. Ele deveria ter ido até eles e pedido para beijar o bebê ou qualquer outra coisa!
Ao mesmo tempo, Kurt queria tocar “Rape Me” e estava irredutível sobre isso. O pessoal da MTV estava perturbado. Ouvíamos de todos os lados pedidos para que aquilo não fosse feito. Eu pensei que deveríamos tocar algo que não fosse do Nevermind, fazer o show, e ir embora. Fácil, certo? Não. Kurt estava obstinado e se recusava a tocar outra coisa. Houve muita turbulência sobre isso.
Voltei ao trailer e tomei uma cerveja (ainda) quente. Horrível, mas bebi mesmo assim. Para resolver a situação da música, nós dissemos que iríamos tocar “Lithium”, mas decidimos, na hora da entrada da banda, levar uma brincadeira e tocar alguns acordes de “Rape Me” no começo. Apesar da questão estar resolvida, as idas e vindas entre o seu pessoal, nosso pessoal, nós e eles, ou quem fosse – isso estava complicando.
Eu estava andando em direção ao palco, tive acesso ao meu novo amigo e colega, Duff Mckagan. Eu achava que Duff tambem estava também sob influência [drogado]. Ele realmente escutou algo de Rose e veio tirar satisfações comigo. Eu estava quase apelando e no mesmo instante respondi no mesmo tom. O pessoal da produção me agarrou e nós continuamos em direção ao palco.
Eu estava agora ainda mais abalado. Deve-se entrar no palco num ótimo estado de espírito, mas eu não estava assim. O Nirvana foi apresentado, fizemos a nossa brincadeira combinada, então entramos com “Lithium”. Eu estava plugado em alguma aparelhagem horrível para baixo e que distorcia terrivelmente. Eu mal podia escutar o que estava tocando, e o som deteriorava, se tornando uma bagunça inaudível. Foda–se! Hora de jogar o baixo para cima! Lá vai ele!!!!! Eu sempre tento lançar bem alto – consigo mais de 7 metros fácil! Sem problemas como o baixo foi alto, mas eu não estava sintonizado – nunca deixei cair e a única vez acontece na frente de 300 milhões de pessoas. Ouch! Eu estava bem, mas fingi estar nocauteado, talvez expressando meu tormento interior em uma noite turbulenta. (Talvez eu estava só com vergonha.)
Eu sai tropeçando para fora do palco em direção ao camarim com minhas mãos na testa. Andei reto pro banheiro e olhei no espelho e vi uma testa sangrando. Lavei meu rosto e coloquei uma toalha de papel na minha cabeça. Paramédicos chegaram e colocaram um pequeno curativo, então me entregaram um longo formulário de liberação médica para assinar. Atrás deles estava Brian May, o guitarrista do Queen, com um copo de champanhe gelado. Eu assinei a liberação só para ficar longe dos médicos e então eu podia tomar um gole da maravilhosa medicina do Sr. May. Ahh, yes!!! Momentos depois Dave Grohl chegou. Ele estava me procurando, só para me encontrar apreciando uma calma taça de espumante com o Sr. May. Foi um alívio para todos!
Conheci Duff adequadamente no fim dos anos 90. E foi um bom encontro – considerando a maneira que nos conhecemos em 1992. Tive um grande ano aqui no Weekly. Um de meus melhores dias foi quando inesperadamente tive acesso a nova coluna do Duff – que ótima surpresa!
Espero que vocês gostem da história daquele infame momento no rock. Eu ainda tenho o baixo, também. Eu não o toco muito. O braço ficou um pouco torto!!!"