Para abrir com chave de ouro o nosso projeto de divulgação de bandas independentes, entrevistaremos a banda Lancelot Lynx. Alguns fatos curiosos são que a banda é Irlandesa, mas é composta por um brasileiro, um eslovaco e um polonês. A banda foi formada em 2005, na Irlanda, porém se chamava Mata Hari, o nome só veio ser mudado para Lancelot Lynx em 2009, na mesma época que a banda deixou de apenas fazer covers para fazer suas próprias composições. De certa forma essa é uma banda que tem feito uma diferença sonora na Europa, pois faz um som bem mais tradicionalista do que o habitual na região (as músicas para ouvir e download estão no fim do post). Para que vocês conheçam mais sobre essa excelente banda, hoje o Rock’s File entrevistará o frontman do grupo, o brasileiro Beto Kupper (Vocal, Baixo e Composição).
Rock's File: Beto, primeiro gostaríamos que nos contasse um pouco sobre a formação da banda desde seus primórdios até os dias atuais. Os membros que passaram pela banda, os que continuam e os seus respectivos períodos, datas, etc...
Beto Kupper: No começo a
banda se chamava Mata Hari e na realidade a primeiríssima encarnaço da banda
se deu em Sao Paulo em 1992 com o guitarrista Alexandre (Blackmore) Gonçalvez e
o baterista William (Yan Kao) Carmo, e que acabou no mesmo ano. Entre 1993 até
1999 eu estava trabalhando com outros projetos e só retomei a ideia de usar o
nome "Mata Hari" em 2000 quando começamos como uma banda de cover de Classic Rock. Durante esses cinco anos de atividade eu tive a imensa sorte de tocar com
os melhores músicos de São Paulo. Grandes guitarristas como Mello Jr., Marcio
Alvez, Ciro Visconti, só pra citar alguns. Alem de super bateristas como Guga
Camargo, Macerlo Camarero e Rapahel Rosa tambem passaram pelo grupo. Quando eu
remontei a "Mata Hari" aqui na Irlanda em 2006, musicos muito bons passaram pela
banda, como os guitarristas Patrick O'Sullivan, James Barron e Colm Cahill que
foi quem gravou as guitarras no EP antes de deixar sua vaga para o atual membro
o guitarrista polonês Michael Kulbaka. Meu primeiro baterista irlandês foi um
músico medíocre chamado Paul Shortt que foi rapidamente substituido pelo atual
batera eslovaco J-Roz.
RF: Desde o começo o nome
“Lancelot Lynx” me despertou certa curiosidade. O que ele realmente significa e
de quem foi a ideia desse nome?
BK: Tanto o nome
"Lancelot Lynx" quanto o antigo nome "Mata Hari", vieram de um programa de TV
semanal que passava no Brasil nos anos 70 para crianças chamado Lancelot Links
(The Secret Chimp) em que chipanzés ensinados eram os personagens numa trama que
misturava 007 com música psicodélica hippie. Existem alguns episódios online no
youtube. Quem tem mais de trinta anos deve se lembrar.
RF: Conte-nos porque se mudou
para a Irlanda. O cenário do rock brasileiro não estava atendendo às suas
expectativas? Você tinha alguma banda ou projeto no Brasil?
BK: Como ja citado
anteriormente eu toquei com grandes músicos no Brasil desde o final dos anos
80 ate 2005 quando vim para cá. E
apesar de ter tocado nas melhores casas noturnas, rádios de Rock e alguns
festivais, eu nunca tive o apoio dos meus companheiros de banda para compor um
trabalho próprio. E toda vez que eu tomava uma iniciativa, os demais
integrantes não demonstravam interesse, ou pareciam não acreditar num projeto
de música própria e a coisa nunca saia do papel. Além da falta de lugares para
apresentar música própria, especialmente Hard Rock e Heavy Metal em inglês. Ou
seja, músicos profissionais, mas que nao acreditam em composição. Isso é
triste, para não dizer lamentável.
RF: O que te fez abandonar esses
projetos para procurar uma carreira musical em outro continente? E valeu à
pena?
BK: Evidentemente
o desacredito dos músicos, unidos com a falta de perspectiva em compor e tocar
shows ao vivo para uma platéia interessada fez com que ir para outro país fosse
uma idéia bastante interessante. Além do que o Brasil culturalmente falando
está, desde os anos 90, numa decadência franca e eu não vejo como a situação
possa piorar. Bandas boas de metal brasileiras tocam Power Metal ou Death Metal, e esses não são a minha praia. Queria tocar Metal Clássico e não vi
perspectivas pra tanto no Brasil. Se valeu à pena? Ouçam o nosso EP e me digam. Se
vocês gostarem, pra mim já valeu a pena!
Beto Kupper, vocalista e baixista
RF: Ao chegar à Irlanda, como
foi o processo para formar a banda? Você teve dificuldades? Referindo-me à
parte de adaptação. Pois, cada um dos membros é de uma nacionalidade diferente.
BK: A minha
dificuldade de se adaptar foi a mesma a dos demais integrantes que não são
nascidos aqui. Nos primeiros meses é dificil, a gente passa por um período forçado
de voto de silêncio pois não podemos nos expressar com a mesma desenvoltura de
que em nosso país de origem, mas com o passar dos anos a gente vai se
adaptando, um dia de cada vez, controlando a saudade, trabalhando, rezando e
cultivando novos relacionamentos. Ficamos mais humildes e vemos o quanto coisas
que consideramos irrelevantes sao na verdade essenciais.
RF: Como é o cenário do rock na
Irlanda? Suas expectativas foram atendidas quanto ao que você esperava?
BK: Eu tinha uma
imagem de que a Irlanda fosse um celeiro de grandes bandas e grandes músicos,
mas se isso existiu mesmo, deve ter ficado no passado. Em setembro de 2005,
quando comecei a frequentar as casas de shows, eu fiquei muitíssimo
decepcionado com a qualidade das bandas e dos músicos. Eu ainda estava com
minha passagem de volta marcada e por muito pouco que eu não voltei. Ainda mais
porque no Brasil, com a minha banda Mata
Hari, eu tocava com os melhores músicos de São Paulo. Resolvi ficar e ver o
que o destino me proporcionava. A falta de músicos capacitados ainda é um
problema. Se não fosse o forte apoio do baterista eu provavelmente já teria
desistido. No momento estamos procurando por um segundo guitarrista, pois o line-up ideal para nosso som é com dois
guitarristas. Mas achar músico bom por aqui não é tarefa fácil.
RF: Uma vez você citou que
Michal Kulbaka seria o primeiro guitarrista não-irlandês do Lancelot Lynx. Há
algum motivo para esta dificuldade em encontrar bons músicos na Irlanda?
BK: Esse é o
outro lado da moeda. Os irlandeses hoje em dia, levam uma vida fácil se
comparado com as antigas geraçoes que foram bem sofridas. Essa nova geração
atual nao tem a garra de lutar por nada. Qualquer dificuldade eles largam o
barco, pois não têm a noção do que é lutar por um objetivo. Isso se dá desde a
falta de esforço em aprender o instrumento até a indisposição em sair para
“ralar” com a banda. O cidadãos oriundos do leste europeu, pelo contrario, sao
pessoas sofridas que sairam de seus paises destruidos pelo comunismo e carregam
enorme cicatrizes. Sofrimento se bem direcionado pode gerar bons frutos
artistícos, mas da indolência e preguiça nao se tira nada.
Johnny Roz (J-Roz), baterista
RF: Defina o estilo musical do
Lancelot Lynx. No que o som de vocês se diferencia não só das bandas locais
como também da Europa em geral?
BK: Nós tocamos
Hard Rock e Heavy Metal tradicional. Uma rádio de Londres nos definiu como
Classic Metal e eu achei conveniente. Enquanto as bandas de rock tendem a
seguir um caminho radical elas acabam por se tornar das duas uma, ou extremamente
pesada/gutural ou extremamente complicada com muitas passagens complicadas e
virtuosismo exagerado. Difícil achar na Europa uma banda que faça o som que nós
fazemos. Atualmente as bandas são de som extremo gutural ou tem influencia de New Metal, Post-Punk ou Emo. Nós
somos mais tradicionalistas e não queremos perder a melodia e o groove do Heavy
Metal original e suas influencias. Nós temos por filosofia nos concentrar na
música e fazer o melhor para que a música tenha um reflexo no ouvinte. Não deixamos
que a vontade de tocar rápido ou complicado sobreponha o cuidado em compor cada
parte da música. Resumindo, a gente toca o suficiente para o que o recado seja
dado. Nem mais, nem menos.
RF: A discografia do Lancelot
Lynx até agora conta com apenas um EP autointitulado. Poderia nos contar como
foi o processo de composição, gravação, mixagem e lançamento desse EP?
BK: Em 2008 nós
alugávamos um container de navio para usar como estúdio, e ensaiávamos num frio
abaixo de zero. Às vezes estava mais frio dentro do que fora do container por
ele ser todo de metal. Forramos o container com caixa de ovos e levamos sofás
velhos que estavam pro lado de fora das casas, cortinas velhas e mais um monte
de lixaria. Instalamos pontos de eletricidade e até que ficou bem simpático,
apesar de não ter banheiro. O processo de composição foi simples. A gente
começava a trabalhar em cima de riffs
que estavam a tempos na minha cabeça. Trabalhávamos em três, quatro músicas ao
mesmo tempo, tocando o mesmo riff
centenas de vezes até surgir outra ideia e ir desenvolvendo. Às vezes a gente
ficava três meses num riff só pra ver
que de fato não funcionava. Mas é assim que se compõe. Muito trabalho, muita
experimentação e uma boa dose de boas influências e talento natural. Eu e o baterista
temos uma simbiose muito boa mesmo que a gente parta pra porrada quase que todo
ensaio (risos)! Em 2009 nós saímos do container para um depósito (ainda sem
banheiro), mas já estávamos com um computador Apple (Pro Tools), microfones
melhores e começamos a gravar. J-Roz foi o responsável por toda a gravação e
produção. Levamos meses para terminar todos os tracks e por fim levamos para
mixar profissionalmente em Dublin em outubro de 2010.
RF: Também foi citado uma vez
que a formação do Lancelot Lynx ainda não está completa, pois mais um
guitarrista é necessário para fazer o line-up perfeito para o som da banda. De
que forma você acredita que isso mudaria o som da banda?
BK: Não irá mudar
o som da banda, mas pelo contrário, adicionar outro guitarrista vai fazer a
banda soar mais fiel às gravações de estúdio, onde varios tracks de guitarra
foram gravados e reproduzir isso ao vivo ficará mais natural com outro
guitarrista, afinal para os shows ao vivo adaptamos para uma guitarra o que foi
originalmente composto para duas.
Michael Kukbaka, o atual guitarrista
RF: Cite algumas das
influências do Lancelot Lynx ao compor suas músicas. Alguma vez vocês tentaram
se assemelhar ou “soar como a banda tal”?
BK: Eu não tento
soar como banda X ou Y intencionalmente, mesmo que isso seja inevitável, afinal
música inspira música. Mas eu diria que Thin
Lizzy é, não somente minha maior influência como tambem de onze entre dez
bandas no mundo inteiro, entre estas, Iron
Maiden, Guns N' Roses, Metallica, Megadeth só para citar as mais famosas. Não dá pra medir o quão
influente o Thin Lizzy é no Hard Rock e Heavy Metal, desde o começo dos anos 80 até hoje, no mundo inteiro.
Quando eu componho, eu tento seguir meus instintos e focar no que a música pede
no momento. Além disso, as influências mais modernas são do baterista J-Roz que
culminaram no EP que está ai disponível pra vocês ouvirem e avaliarem. Minhas
bandas prediletas alem de Lizzy, são Kiss,
Megadeth, Iron Maiden antigo, Deep
Purple, Dio, etc.
RF: O Lancelot Lynx tem sido
bem sucedido na Irlanda e na Europa? As pessoas curtem seu som? Como é a
recepção de quem ouve vocês tocarem?
BK:
Apesar de ainda sermos uma banda underground a recepção do público tem sido
absolutamente fantástica. Fomos escolhidos track da semana numa rádio de
Londres por três semanas seguidas. A reação do público nos nossos shows é
incrével. O EP tem sido executado tambem em Boston nos EUA, Alemanha, Polônia
e várias webradios européias. Aqui na Irlanda no ranking do site reverbnation
passamos de 96º à 18º em apenas duas semanas. No Brasil a reação
tem sido ótima também. Estamos bastante entusiasmados.
RF: O que mudou desde que a
banda foi fundada? O reconhecimento aumentou? Vocês estão satisfeitos com os
resultados?
BK – Mudamos o
paradigma. Basicamente a gente deixou de ser uma banda cover, para ser uma
banda de carreira. E são dois universos completamente opostos e que nao se
misturam. Quando tocávamos covers não tínhamos reconhecimento nenhum,
independente de nossas habilidades musicais. Hoje as pessoas estão comecando a
nos levar à sério e a tomar conhecimento do nosso potencial.
RF: Quanto à repercussão da
banda. É impossível não notar que a internet é parte fundamental na divulgação
de qualquer banda, tanto as conhecidas quanto as nem tanto assim. Qual foi o
papel da internet ao longo da existência do Lancelot Lynx?
BK – A internet é o meio natural de comunicação e divulgação. Hoje em dia não se precisa de
grandes estúdios para que se faça boas gravações e se a música for de qualidade
ela pode andar com os “próprios pés” graças à digitalização e aos downloads. Nada se compara em ter o CD
ou LP original da sua banda predileta, mas você não é mais obrigado a comprar
um álbum inteiro por causa de uma música. Isso virou de cabeça pra baixo a
indústria musical como nós a conhecemos, e não precisamos de uma gravadora pra
que vocês possam ter acesso as nossas músicas. E isso é, de certa forma,
positivo. Portanto podem baixar as nossas músicas à vontade.
RF: A banda está novamente em
processo de composição? Existem planos ou expectativas para o futuro próximo?
Nesse futuro próximo há possibilidade do Lancelot Lynx vir ao Brasil?
BK – Estamos em
fase de composicao do novo álbum. No momento estamos procurando agentes
para tocar em festivais dentro e fora da Europa. Se Deus quiser, estou
confiante que algo vai aparecer e se calhar de passarmos pelo Brasil, seria um
sonho realizado, especialmente pelos meus companheiros de banda que sonham em
conhecer as mulheres brasileiras, tomar caipirinha e ir numa típica churrascaria
gaucha (risos!)... Vamos ver o que o futuro nos reserva. Enquanto isso, vamos
trabalhando! Fiquem com Deus. Keep on rockin'!
Beto Kupper
O Beto nos disponibilizou os links para ouvir e baixar gratuitamente as músicas do EP do Lancelot Lynx, o qual nós iremos sortear nos próximos dias aqui no blog, portanto, acompanhe nossas postagens!
Para ouvir as músicas clique aqui.
Para baixar o EP clique aqui.
As letras das músicas está disponiblizadas abaixo, basta clicar no nome da música para expandir:
O Beto nos disponibilizou os links para ouvir e baixar gratuitamente as músicas do EP do Lancelot Lynx, o qual nós iremos sortear nos próximos dias aqui no blog, portanto, acompanhe nossas postagens!
Para ouvir as músicas clique aqui.
Para baixar o EP clique aqui.
As letras das músicas está disponiblizadas abaixo, basta clicar no nome da música para expandir: